Plano habitacional e o mercado imobiliário
Gazeta Mercantil (02/04/2009)
O lançamento pelo governo federal neste final de março de um ambicioso plano habitacional que tem como meta construir um milhão de moradias em poucos anos lança imenso desafio a construtoras, incorporadoras e ao mercado imobiliário em geral: como construir empreendimentos habitacionais em grande escala, com custos compatíveis com os baixos valores de venda exigidos, preservando a sustentabilidade econômico-financeira das empresas? A fórmula para resolver essa equação está disponível há longo tempo, aqui e no exterior: a industrialização da construção. Não é possível à construção civil brasileira continuar a utilizar métodos arcaicos e, ainda, atender às exigências listadas acima.
Senão, torna-se muito difícil conciliar preços de terrenos cada vez mais elevados com custos de construção ascendentes e a necessidade de oferecer empreendimentos com a qualidade adequada. Nesse sentido, é importante recordar que o sistema construtivo que utiliza a alvenaria estrutural com blocos de concreto oferece solução eficaz, testada em empreendimentos públicos e privados há mais de três décadas e que, ao longo desse tempo, evoluiu extraordinariamente. Hoje, grandes
construtoras e incorporadoras, como Gafisa, Cyrela, Even Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI), Goldztein, entre diversas outras, de pequeno, médio e grande porte, recorrem ao sistema construtivo de alvenaria estrutural com blocos de concreto para imprimir métodos produtivos industrializados, diminuir cronograma, garantir custos e qualidade.
Flexibilidade, modularidade, componentes industrializados, normalização completa e custos extremamente competitivos caracterizam a alvenaria estrutural com blocos de concreto. O sistema vem sendo empregado e desenvolvido no Brasil desde os anos 1970, e hoje tem elevada qualidade e ótima relação custo-benefício, que começa já no projeto arquitetônico, de dimensionamento estrutural e de instalações, específicos para esse sistema. A alvenaria estrutural com blocos de concreto,como o próprio nome diz, dispensa a necessidade de executar pilares e vigas - os blocos já compõem a estrutura de uma casa ou de um prédio. Sua flexibilidade permite o emprego tanto na construção de moradias supereconômicas como de prédios de alto padrão - cerca de 99% dos empreendimentos das companhias habitacionais o utilizam e também lançamentos paulistanos de alto padrão, como o The Gift, da Even. O desenvolvimento técnico do sistema inclui completa normalização dos materiais (blocos), produzidos com garantia de resistência e uniformidade, por exemplo, e dos serviços envolvidos (projeto, construção da estrutura, execução de instalações e acabamento). Os blocos são fabricados em dimensões (módulos) que permitem erguer paredes com instalações já previstas e tornam muito simples a colocação de esquadrias pela construção com vãos nas medidas-padrão desses elementos. Há ainda materiais específicos de acabamento, como argamassas prontas, instalações hidrossanitárias modulares e padronizadas, escadas e outros elementos pré-fabricados e equipamentos racionalizadores da construção, como carrinhos para descarregar blocos, carrinho porta-argamassa, gabarito para requadramento dos vãos, cantoneira para cantos internos e externos, entre outros.
A somatória desses elementos montou o alicerce para o enorme salto técnico-econômico no sistema construtivo de alvenaria estrutural com blocos de concreto. Estudos realizados por especialistas em construção com alvenaria de renomadas universidades brasileiras, como a Politécnica da Universidade de São Paulo, Universidade Federal de São Carlos-SP, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, entre outras, comprovam que a alvenaria estrutural com blocos de concreto permite reduzir o custo das obras em até 30% (em torres de até quatro pavimentos) e 15% (em torres com 20 pavimentos), com ganhos ambientais, por praticamente não gerar rejeitos de canteiro e quase não utilizar fôrmas e escoras de madeira. As vantagens da construção com alvenaria estrutural com blocos de concreto ficam mais evidentes em empreendimentos de grande escala, como serão os destinados a atender à demanda gerada pelo plano habitacional do governo, que prevê reduzir em até 14% o déficit brasileiro de habitações (em torno de 8 milhões de moradias), ou equivalente a cerca de 1,1 milhão de residências.
Na ponta do lápis, para construir 1 milhão de moradias, com investimento de R$ 34 bilhões, em grande escala, com qualidade e economia - se em média reduzir-se em 20% o custo final da obra, serão economizados quase R$ 7 bilhões ou, então, poderão ser construídas muito mais habitações, nesse montante. (Carlos Alberto Tauil - Arquiteto, presidente da Bl - Gazeta Mercantil).
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